terça-feira, 14 de julho de 2015

7

- CLAIRE, ACORDA PORRA!
Pulei da cama. Já disse o quanto eu odeio o fato dela ser uma vadia que acorda as pessoas no grito?
- Bom dia pra você também!
- Guten morgen pra você também. É "bom dia em alemão".
- Avá.. Pensei que você tivesse me xingando.
- Aprendi com aquele ruivinho de ontem, porque foi ele que me deu bom dia primeiro - A cara dela não escondia nada pqp...
- Você transou com ele?
- Não... A gente fudeu mesmo.
Rimos dessa coisa absurda que saiu da boca dela.
- Mas, e você e o Hanz?
- Ele me deu um beijo na bochecha ontem.
- Que broxante!
- A gente só não se beijou porque os doi fediam a tequila.
- Querida, eu e o Pietro estavamos fedendo a maconha. Isso não me impediu de transar com ele.
- Ele foi respeitoso comigo porra!
- Eu não atravessei o mundo pra querer um boy respeitoso. Minha ppk não tem olhos nem sentimentos, ok?
A porta é batida. Dessa vez Leila teve a decencia de atender.
Era Hanz, com uma cara linda de quem acabou de acordar.
- Guten morgen meninas. Oi Claire...
- Guten morgen.
- Ta se sentindo bem?
- Só tô com uma dorzinha de cabeça, mas acredito que tenha sido por causa de ontem, né.
Ele riu.
- É exatamente por causa de ontem! Bem, como vocês ainda não conhecem Berlim, eu queria apresentá-las a vocês. E, Leila, eu tô levando o Pietro, algum problema? Porque depois da noite de ontem....
- PROBLEMA NENHUM. PODE LEVAR, HEHEEHEHEHE, A GENTE VAI SE ARRUMAR E JÁ VOLTA - Leila parecia desesperada.
Assim que a porta fechou, Leila parecia estar desesperada.
- Então era ele que tava ali no quarto assistindo tudo! Merda!
- COMASSIM LEILA?
- O Pietro perguntou se tinha problema ser no quarto dele, mas como no nosso quarto, eles vão divididos. E como eu não quis te encomodar, eu fui pro dele. Mas eu não sabia que O HANZ era o tal amigo de quarto que chegou no meio da transa.
- Vocês pararam? - Não conseguia conter meu riso
- Não, a gente tava chapado demais pra perceber!
- Que escroto Leila!
- Tsc, ah, foda-se! Bom que elejá se anima pra quando for te comer também.
Revirei os olhos e fomos nos arrumar.
Fomos andando até a porta do hostel, e lá estavam Hanz e Pietro nos esperando. Esse dia seria incrivel. Mas não pelo fato do Hanz, e sim, porque... Eu tava visitando Berlim!
Fomos de taxi, e aquela cidade... Era linda! Nós passamos pela rodoviária suja do filme Cristiane F, passamos por parques lindos, e coisas naturais perfeitas, vimos pedaços do muro de Berlim, e foi em um deles que o taxi parou pra nós.
- Bem... Pietro e Leila, vocês podem andar por onde quiser, e eu e Claire vamos também. Direções opostas. Nos encontramos as 19:00 aqui mesmo.
Hanz pegou a minha mão e fomos andando. Conhecendo vários lugares, tirando várias fotos. Ele me levou pra comer o tradicional pão com linguiça (não levem pra putaria, please) e cerveja alemã. Era sempre divertido estar com ele. Aquele sotaque portuga era muito fofo e gay ao mesmo tempo.
Fomos andando mais um pouco, até que encontramos mais um pedaço do muro, e com ele uma paisagem natural linda, onde separava a antiga Alemanha oriental, da ocidental.
Nos sentamos numa calçada enquanto comíamos nosso pão.
- Um dos motivos de eu sempre querer visitar a Alemanha, era por causa do muro... O seu país tem uma história impressionante!
- Quando eu tinha 3 anos, me mudei pra Portugal, por causa dos meus pais. E ai, com 11, eu voltei pra cá. Lá a gente também tinha aprendido sobre as guerras que envolviam a Alemanha, e eu morria de vontade de conhecer mais sobre isso. Quando eu voltei, eu estudava numa escola, que no caminha, dava pra ver alguns fragmentos do muro e eu sempre tinha vontade de ver de perto. Eu sei, pfff, um muro. Mas é que tinha muita história atras de apenas um pedaço de muro. Familias que se separaram, gente que foi presa tentando mudar de lado, revolta e morte das pessoas... Aquilo pra mim era... Foda! E ai, quando eu tinha 17 anos, meus pais se separaram. E então eu fugi de casa. Fiquei um dia fora, e ai eu vim pra cá. Fiquei andando, até achar um lugar bem especial.
- Que lugar?
Ele se levantou e estendeu a mão pra mim. E fomos andando até chegar em um ponto. Onde havia uma guarita gigantesca desativada, ainda da época da guerra fria.
Nela havia uma escada. Hanz foi subindo e eu logo atrás.
Nela dava pra ver praticamente Berlim toda. E de um lado, a civilização. De outro, algumas montanhas no fundo. Era um lugar lindo.
- Eu uso esse lugar pra relaxar um pouco.
- É muito lindo aqui!
- Sabe - ele se virou pra mim - É a primeira vez que eu trago alguém aqui.
- Sério?
- Juro. Não tô sendo um cafajeste de te falar isso e estar mentindo. É realmente a primeira vez que eu trago alguém aqui.
- Me senti importante!
Rimos, até que a risada foi quebrada quando ele se aproxima de mim e poe a mão no meu rosto.
- Claire. Eu sei que pode estar sendo rápido demais. Mas, desde que eu te vi, eu não consigo te tirar da minha cabeça. É meio que impossivel. Desculpa. Alemão é precoce.
- Então eu devo ser alemã também - levantei uma sobrancelha - Porque eu sinto o mesmo por você.
Ele se aproximou de mim, e mexia nos meus "cabelos". O que me deu um puta medo dele descobrir que não passava de uma peruca.
E foi o que aconteceu. Enquanto ele mexia tentando ser fofo, chegou uma hora que a peruca saiu junto com a mão dele.
Ele ficou olhando pra mim com uma cara de duvida, e eu apenas fiquei quieta. Sem reação, até que as primeiras lagrimas começaram a cair.
- Desculpa - eu dizia baixinho - Eu devia te contar...
Toda a minha frase foi interrompida pelo beijo dele. O beijo de Hanz. O meu primeiro beijo. Que... Sem me gabar, foi lindo, com direito a paisagem de fundo e tudo. Foi perfeito.
E depois do primeiro beijo... Veio sim a minha primeira vez.

6

Uma hora e meia já tinha se passado, e enquanto Leila tava no banho, eu já tava terminando de me maquiar. Coloquei uma calça jeans preta, salto preto e uma blusa dessas t-shirts com palavras engraçadas em inglês. Uma gótica básica.
Abri a minha outra mala. A mala especial onde tinha todas as minhas perucas e um pente especial pra elas. Acho que ao longo dos anos eu devo ter gastado uns 5.000 em perucas. Eu não tenho culpa se só gosto de coisa de qualidade.
Tinham perucas bem variadas ali, como eu já disse antes. Das coloridas, até as mais discretas. Mas como eu cheguei em Berlim de cabelo loiro, tive que manter pra ninguém pensar que eu sou uma maluca de cabelo raspado, ou que eu tenho câncer mesmo.
Leila saiu do banho apenas de toalha. Sério, ela acha supernormal ficar pelada na frente da amiga e passar quase meia hora na frente do espelho d quarto penteando o cabelo. Miga, ninguém gosta de ver a sua ppk depilada não, ok?
- Uau! - Ela se vira pra mim - Acho que um certo Hanz vai ter sorte hoje, hein...
- Vai se fuder. Eu só tô arrumada e confortavel.
- Se eu fosse ele, te levaria pro banheiro e te comeria toda.
- Ok, chega, sem ataque lésbico por favor. Vai se arrumar que falta pouco tempo.
Arrumadas, limpas, e lindas. Sim. Lindas.
Fomos andando até a sala do hostel, e todos estavam nos esperando. Uma galera que eu nunca tinha visto. Um moreno, uma ruiva, um cara de barba, um ruivo, Hanz e Rosa.
- Uau, brasileiras sabem se vestir bem, hein... - Disse Hanz com o poder de me deixar sem graça. Ou ele só estava sendo gentil mesmo.
Fomos até lá fora, pegamos dois taxis (porque só 1 não iria caber nem metade daquele povo todo), e fomos em direção ao bar mexicano.
Chegando lá, era uma atmosfora bem foda, colorida, com aquelas musicas tipicas do méxico e pessoas alegres, dançando. A maioria gringos que não tinham molejo nenhum.
- Bienvenidos! Rosa, trouxe seus amigos? - Dizia um homem meio baixo com um bigode bem "sensual"
- Sim! E dessa vez, duas amigas novas. Do Brasil!
Ele nos abraçou e deu dois beijinhos na bochecha.
- Qualquer amiga de Rosa, é amiga minha! Primeira rodada de tequila por nossa conta!!!
Todos comemoraram, e depois cada um sentou num banco do bar. A maioria se sentou na mesa pra falar a verdade, mas como não sobrava mais lugar. Tive que sentar no bar mesmo.
Rosa me entrega um copo de tequila e eu olho pra ele como se ele fosse um monstro. Nunca tinha colocado um gole sequer de alcool na boca e começar com tequila... É uma coisa e tanto. Enquanto tento criar coragem pra beber aquele copo, olho envolta e já vejo a Leila se engraçando com o ruivo. Sabia que ela não ficaria no zero a zero, principalmente num hostel cheio de gringo.
Enquanto fico pensando naquelas coisas, nem percebo que alguém se senta na minha frente. Putz, o alguém no caso, era é o Hanz...
- Posso me sentar aqui?
- Ah, claro, pode sim - Eu, uma otima pessoa pra se relacionar....
Hanz se senta e pega um copo de tequila no bar.
- E então... Ta gostando?
- Muito. Mesmo ainda não ter dado uma volta pra conhecer mais, eu já tô simplismente amando mais que tudo aqui.
- Fico feliz em saber.
Ficamos 1 minuto sem nos falar. Parecia uma eternidade.
- Você... Você não vai beber seu copo?  - Ele apontava pro mesmo que tava em cima do bar.
- Bem... Eu nunca bebi. É a minha primeira dose de tequila. Tô tentando criari coragem.
Ele ri mostrando aqueles dentes perfeitamente alinhados.
- Eu lembro da primeira vez que eu coloquei um alcool na boca. Eu tnha 15 anos, foi numa festa da escola. Eu quase vomitei.
- Acho que isso não foi muito motivacional - Ri
- Então lá vai uma coisa motivacional: bebe. A primeira vez é meio estranha, mas aposto que até o final da noite vamos estar bebados falando merda. - Rimos juntos.
"Ok", minhas ultimas palavras antes de colocar aquela coisa amarga e ácida guela abaixo. Fiz uma careta tão forte que provocou gargalhada no Hanz.
- Não é tão ruim - Enquanto dizia isso, ele bebe seu copo também.
- Acho que merecemos mais uma dose. Pela sua força de vontade! Eu pago!
E assim foi a nossa noite. Falando merda, "tentando" dançar, quase caindo, e bebendo mais e mais doses de tequila, até quase desmaiar.
- EI, MUCHACHOS! Acho que está na hora de ir embora, han... - Dizia Rosa já impaciente
Nos olhamos por uns segundos, e eu pude ver o quão bonito era o rosto dele. Sem nenhuma malícia dessa vez. Aquele azul com pontinhos castanhos que combinavam com os meus olhos, de uma maneira fofa e estranha. Eu sentia pelo olhar dele, serenidade, calma e coisas boas. Ele era bom.
- Sua bebada, ta na hora da gente ir - Rimos
Ele me abraçou e fomos andando, de forma que um pudesse se escorar no outro evitando que alguém caisse.
Chegamos de volta no hostel, e algumas pessoas já estavam no tapete fumando, o que deixava a casa com um cheiro totalmente esquisito e enjoativo. E quem estava ali junto? Se você disse Leila, você acaba de ganhar.... Nada. Mas acertou.
- Claire, você vai ficar aqui, ou vai dormir? - Hanz me pergunta assim que nos aproximamos do tapete.
~ Vou te beijar ~
- Bem... Eu não sei. O que você vai fazer?
- Eu vou dormir. Se uma tal menina não tivesse feito eu beber tanto - rimos - eu até fumaria um pouco e te ofereceria. Mas, hoje foi o seu primeiro alcóol. Vamos deixar o seu primeiro beck pra outro dia.
- É, eu acho que também vou dormir - Fitava o chão
- Então vou te levar até o seu quarto. Já que também é caminho do meu...
Fomos andando pelo corredor, meio caindo e ao mesmo tempo rindo do nosso jeito meio louco. Até que chegamos na porta do meu quarto.
- Tá entregue.
- Obrigada, a noite foi muito boa.
Ele deposita um beijo na minha bochecha, o que me deixa vermelha.
- Eu até te beijaria agora, mas acho que não seria legal o gosto de tequila.
Rimos de novo, nos despedimos, e eu literalmente cai na cama. Apaguei enquanto a maioria da republica estava acordada fumando, ou transando. Leila já estaria transando nesse ponto.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

1

sexta feira, 00:00, junho, 2014!
Antes de mais nada, me chamo Claire. Eu gosto do meu nome. É meio que uma coisa estrangeira, quando na verdade eu só sou uma menina de São Paulo mesmo. Mas tá de boa...
Tenho 18 anos. Estaria fazendo 19. Mas apenas estaria, porque faria ano que vem.E po, ano que vem é bastante tempo pra alguem que já riscou o tempo da sua lista.
Eu sou naturalmente uma branquela de cabelo preto. Olhos azuis... Me orgulho deles! E meu cabelo era aquela coisa lisa, porém cheia e pesada. Eu simplismente amava.
Eu não era muito gorda, sabe. Eu era razoavel. Ok, uma menina com 12 anos de idade sempre reclama do seu corpo e morre de inveja das meninas com bunda e peitos grandes, que em alguns anos seriam substituidos por uma barriga imensa, ou apenas caíriam mesmo.
Mas isso foi há bastante tempo atrás. Faça as contas, se eu reclamava do meu corpo com 12 anos, e agora tenho 18, se o meu cabelo ERA preto e lindo, mas agora ele muda a cor e o jeito constantemente... Sem contar no fato de que eu não sei o que é uma escola desde os 14 anos, cara eu to na merda!
Eu fui diagnosticada com 10 anos. Leucemia. Bad né. Acontece que apartir dos meus 12, o estado se agravou bastante. E com a quimioterapia, meu cabelo preto foi raspado e as perucas deram a vez. Eu sou bem vaidosa, então comprei umas 15 perucas que eu cuido toda semana. Elas são bem loucas, são aqueles cabelos dignos de tumblr que eu sempre sonhei em ter, mas minha mãe não deixava. Tipo um vermelho curto, um ruivo natural, um degradê entre azul, verde e roxo, e por ai vai.
Só que com a quimioterapia, meus problemas foram aumentando bastante. E com 13 anos, eu sai da escola. O sonho de todo mundo é sair da escola né. Mas acreditem, quando você parar pra pensar no motivo pelo qual você não frequenta mais ela, é ai mesmo que vai te dar aquela saudade.
Eu tinha muitos amigos e algumas amigas só. A gente se falava até o terceiro ano, e eu cheguei a ir na formatura deles. Mas com o terceirão, vem a faculdade. E cada um foi pra um canto. Porra de enem que desune os amigos!
A unica amiga que eu ainda mantenho contato é a Leila. Porque ela é rica demais pra se fazer faculdade, e apenas trabalha na empresa dos pais. É só isso que ela faz, mais nada. Ela é aquela típica menina hipster que bate palma pro sol, mas que entrou nessa moda muito antes das pessoas começarem a saber o que era hipster. Ela tinha um tumblr na época que todo mundo ainda usava o orkut com aquelas comunidades do tipo: eu amo a minha mãe, eu odeio acordar cedo, e etc. Ela sempre curtiu aquelas bandas de rock alternativo dos anos 90, e usava roupas despojadas. Mas claro, das melhores e mais caras marcas do mundo.
Ela é uma amiga muito foda. Sempre me ajudou nos momentos mais dificeis da vida, como esse quando eu descobri o meu cancer, e esse de agora.

2

- Claire... Claire, você consegue me ouvir?
Minha cabeça estava meio zonza e eu não consegui enxergar as coisas claramente. Tudo embaçado. Mas eu reconhceria aquele jaleco branco de longe. Doutor Mendes!
Balancei positivamente a minha cabeça, e quando percebi, estava com o braço furado, e com aquela coisa na boca que me ajuda a respirar. Aquela que eu sempre esqueço o nome e chamo de máquina de respirar.
Doutor Mendes andava de um lado pro outro com a prancheta na mão, e do outro lado do consultório estavam os meus pais, chorando bastante.
Tirei a máquina de respirar de mim, e ai então pude sentir o doce e gostoso ar............ Do hospital.
- O que tá acontecendo?
Minha mãe mostrou um olhar de tristeza pra mim, e foi ai que eu percebi que uma das coisas que eu temia, poderiam estar acontecendo.
- Eu morri? Isso é tipo um sonho, tipo aquele filme Nosso Lar?
O médico que ainda estava com sua prancheta na mão soltou uma risadinha. E eu vi que meu pai havia expressado uma cara de "isso é um momento sério, eu não posso rir".
- Não Claire, você não está morta - Disse o doutor - Não ainda.
Já disse que o dr Mendes não é bom em expressar emoções?
- Como assim?
Minha mãe chorava mais ainda. E com esse choro bem exagerado, ela chegou perto da minha cama e pegou a minha mão esquerda que estava picada por uma agulha na minha veia.
- Filha... - Ela enxugou as lágrimas do rosto - Parece que a quimio não está mais dando certo.
- Eu não venci o "mau" né.
Ela fez que não com a cabeça.
- O que eu vou te falar agora, pode te causar um transtorno, e um grande susto Claire. Mas é melhor que você saiba antes de ser pega de surpresa.
- Mãe, o que o doutor ta falando?
.......................................................................................................................
- Filha. Você só tem mais três semanas de vida.
Suas lagrimas começaram a cair novamente, e logo ela foi abraçada por meu pai que mesmo ruim estava tentando consola-la.
E como diz Maísa... Meu mundo caiu!
Eu não conseguia formar pensamentos concretos e nem lagrimas caíram do meu rosto na hora. Eu estava em choque, em transe, tentando engolir aquilo tudo que foi falado pra mim.
- Você teve uma crise hoje a noite. A mais grave. E desde o mês passado que aumentamos a dosagem dos seus medicamentos, o seu corpo não responde de forma positiva. E de acordo com os exames - Ele olha novamente aquela maldita prancheta - Você só tem esse tempo de vida. Sem medicamentos, sem agulhas, sem nenhum tratamento.
Meus pais olharam pra mim na espera de algum comentario meu. Mas a única coisa que foi capaz de sair da minha boca, foi um: "ok".
Depois disso, voltamos pra casa. Em silencio. Eu estava olhando pra janela com aquelas luzes se mexendo conforme a velocidade do carro, e pensava em tudo o que aconteceu comigo. Antes e depois do "mau" ter entrado na minha vida. Nas coisas que eu perdi, nas poucas coisas que eu ganhei, nos meus pais, e finalmente, em mim. Como seria daqui por diante? Duas semanas é muito pouco tempo pra tentar viver a vida de uma forma que não seja um desperdicio total. Todos esses anos da minha adolescencia foram um desperdicio total. Sem festas, sem baladas, e até hoje sem saber qual é o gosto de uma vodca. Sem fazer aquela viagem que meus pais prometeram me dar de 15 anos, e não me deram por conta de mais uma merda de complicação que fez com que os remédios mudassem, e mais furos no meu braço aparecessem.  Todos esses pensamentos iam e vinham como flashes de luz. Como as luzes da rua. A minha vida dali por diante seria um flashe de luz. As luzes da rua um dia se apagam.
Fui acordada daquele meu transe com meu pai abrindo a porta pra mim. "Brigado pai", foi a unica coisa que eu consegui dizer. Eu geralmente não sou uma menina timida de poucas palavras, mas aquele era um momento sério. Eram poucas e precisas palavras ali.
Entramos em casa e eu fui direto pro meu quarto. Eu vi a zona que estava ali. Meu cobertor jogado no chão, os remédios sem tampa e o telefone do hospital na mesa de cabeceira. É, pelo visto a situação foi foda e eu estava apagadinha quando isso aconteceu hein.
E logo ali na minha penteadeira, o meu diário aberto. Merda, leram o meu diário de 3 anos atrás. Justo na pior pagina, que dizia assim:
"...Eu só queria ter uma vida normal, como essas que eu vejo na tv. Aquele seriado skins parece ser foda demais, aquela menina... Não lembro o nome dela. Aquele cabelo meio marrom foda que eu precisei comprar uma peruca igual. Mas do que adianta eu ter uma peruca igual, se a vida não é igual? PFFFF, eu gosto de imaginar que ela não vai pra uma clinica ou morre, ou vai pra casa dos avós tipo naquele filme Cristiane F. Eu gosto de pensar que ela é incrivel e sempre vai ser assim.  Eu não pedi esse maldito cancer. E não pedi essa maldita proteção dos meus pais. Eu só queria ser normal e comemorar meus 15 anos de uma forma normal. Eu só queria ta sei lá, na disney tirando fotos com o mickey e naquela montanha russa do rock! É pedir demais? Sabe qual foi o meu presente de aniver? Mais um furo na veia! FELIZ 15 PRIMAVERAS!"
É... Eu tava bem revoltada nesse dia. Eu tenho meus motivos, ok? Esse seriado, por mais que seja foda, uns meses depois eu reparei, que eles são uns drogados sem causa. Eles não tem motivos realmente preocupantes pra poder se revoltar de uma forma tão grande. Eu tinha! E me revoltava? Não. Meus pais não deixavam.
- Filha - Escuto meu pai me chamar - desce aqui por favor.
Mais uma vez tirada do meu transe! Uma quase defunta precisa de um minimo de respeito né! Mas eu desci mesmo assim.
- Oi, digam. - Me sentei ao sofá de frente do que os meus pais estavam sentados.
- Claire.... Você tem sido forte o tempo todo. Tem aguentado tudo isso de uma forma bonita de se ver. Você pode pensar que a gente não sabe a dor que você passa. Mas eu te digo, é pior a nossa como pais.
Já disse que eu me sinto muito mal por ver a minha mãe chorando?
- Então filha - Ela enxugou as lagrimas - Achamos que esse seu tempo de vida tem que ter algum significado pra você.
- Vocês leram o meu diario de 3 anos atras, pra que isso?! Eu to bem ok? Vamos passar esse tempo juntos, como a gente sempre fez! Eu amo vocês, as pessoas mais importantes pra mim.
Ok, eu confesso que caíram umas lagrimas do meu olho. Mas foram poucas.
Todos fitaram o chão. Foi até esquisito essa parte mano, tipo... Bem esquisito.
- Como sua mãe estava falando... E sim, nós lemos o seu diário... Decidimos que chegou a hora de você ser apenas uma adolescente normal. Com uma vida normal regada a festas, raves, e, por favor! Poucas drogas! Não quero o corpo da minha filha sendo cremado cheio de substancia esquisita no corpo.
Eu tava ouvindo aquilo mesmo? Desde quando meus pais viraram liberais?!
- Desde quando a gente virou liberal, certeza que é isso que tu deves tá pensando! Eu e sua mãe viramos liberais, desde quando vimos que sua vida foi regrada e vivida pelo cancer. Digo, pelo "mau".
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- Então, vamos te dar o dinheiro da poupança da sua faculdade, já que.... Você não vai fazer - Dessa vez foi a minha mãe que me deixou surpresa.
- Calma então. Quer dizer que... Do nada vocês após terem lido o meu diário, e depois do que aconteceu hoje a noite, querem me livrar disso tudo?
- Você não sempre sonhou em fazer uma eurotrip? É assim que se diz?
- Eu só acho que isso ta sendo precoce demais! Porra eu acabei de descobrir que vou morrer daqui há duas semanas!
- Não quer? Então ok!
Meu pai se levantou e minha mãe foi atras. Me deram um beijo de boa noite.
Boa noite? Que noite foi essa! Tipo, não dá pra dizer como eu me sinto sobre isso! Eu geralmente não expresso muito bem meus sentimentos, mas afirmo que hoje tinha que ser uma coisa triste. Tipo aqueles filmes que ainda tem uma trilha sonora de fundo, pra mostrar de todas as formas, a dor que cada um sente.
Mas não foi isso. E eu ainda ganhei uma eurotrip! Será que essa é uma chance de eu realmente ser feliz?

3

- Bom dia Claire!
Aquela voz não era masculina, e não tão rouca pra ser da minha mãe. Já até sabia de quem era.
- Bom dia Leila. - estava eu enrolada no edredom e nos meus ursos de pelucia que meio que me cobriam toda.
Ela andou lentamente. Eu podia ouvir os seus passos, e mesmo não vendo, imagino que ela estava usando uma bota de cano curto bem daquelas brutas do exército, que deve ter custado uns 500 reais.
Ela sentou na borda da minha cama, pude sentir isso também. E senti um dos meus ursos sendo tirados de mim e arremeçados na minha cara.
- Leila cê me assustou!
Ela ria.
- Seus pais me contaram tudo  - Ela mordeu o lábio - E... Eu meio que tô tão sem reação, quanto eu imagino que você esteja.
- Eles te contaram tudo?
- Até sobre a eurotrip. Tá animada?
Me sentei na cama ainda careca! Ah foda-se, era a Leila!
- Como assim? Eu não to animada pra nada! Eu vo morrer!
- Para de viadagem velho! Sinceramente, você ta se fazendo de pobre coitada, tipo aquela Hazel do a culpa é das estrelas. Para, você não vai pegar nenhum perneta bocudo não!
Suspirei.
- Sabe porque? -Ela arqueou uma das sobrancelhas - Porque eu ouvi dizer que na Alemanha tem uns loiros muito deliciosos, e ouvi falar também, que os Italianos sabem fazer melhor!
- Puta que pariu - Garota desgraçada que me faz rir quando eu não quero - Para velho!
- Para nada! Você vai perder sua virgindade com um europeu, olha que delicia! Melhor que eu, que perdi com o meu primo, merda!
Nós duas rimos.
- Então, quer dizer que se eu fosse...
-Você vai! - Fui bruscamente interrompida
- Você iria comigo?
- PFFFFF, lógico! Só eu sei onde ficam as melhores raves e os festivais mais legais da Europa toda! E outra, seus pais me pediram pra falar contigo e tentar te convencer dessa ideia! O plano é o seguinte: você vai ficar 18 dias fazendo a sua Eurotrip, e vai passar seus ultimos momentos aqui, com os seus pais.
- Tem até plano?
- Lógeco querida! - Ela pegou o celular do bolso - Eu fiz umas pesquisas de hosteis, tudo direitinho, vai da tudo certo! Você já tem passaporte desde os seus 15 anos, ele não tá vencido. Você tem roupas e perucas o suficiente pra ficar linda, já que lá ainda é verão, e dinheiro que iria ser gasto na sua faculdade. Pra garantir um futuro melhor e a sua felicidade. Que vai ser bem gasta em uma semana e pouca de pura diversão!
Coloquei a mão no rosto e esfregava o olho ao mesmo tempo. Como assim essas coisas foram planejadas enquanto eu dormia pela louca da Leila? Como meus pais confiam nela pra uma viagem internacional?
- Ah, eu também já vi um carro aqui. Fica por minha conta já que só eu sei dirigir. Vamos de mustang baby! - Viadagem essa de dizer "baby". A gente tá no Brasil colega. - O que cê me diz?
Ela olhava pra mim esperando a resposta. E sem nóia e sem caô, a resposta foi dada.
- Nem fudendo.
- WHAT?
- Mentira, eu vo confessar, to animada!
- Ae porraaaaa! Arruma tuas coisas que nosso vôo é hoje daqui a 4 horas.
Que? Vôo já agendado? Tudo planejado?
Leila me puxou pelo braço e me levou até o andar de baixo, onde estavam meus pais sentados na mesa, meio que aguardando a nossa resposta.
- Ela disse siiiiiiim! Ela disse sim!
- Desde quando a gente vai se casar, Leila?
- Nós vamos viajar! EUROTRIP PORRAAAA!
Meus pais pareciam estar contentes e mais aliviados agora.
- Sério que vocês vão confiar nessa louca comigo do outro lado do mundo?!
- Bem - Meu pai se levantou da mesa - Ela é a unica companheira disposta a alguns dias de aventuras "jovens".
- E o meu vôo, daqui a 4 horas...
- Tempo suficiente pra você organizar as suas roupas, já que a papelada a gente já separou - minha mãe interrompeu.
Minha cara de "não tô acreditando nisso, mas.. Não me belisquem" foi tão aparente, ao ponto dos meus pais me abraçarem e olharem com aquele olhar de "pais preocupados".
- Eu sei que isso tudo parece louco pra você. Mas a gente quer te dar uma chance de ser feliz. Já tivemos 18 anos e você mais do que ninguem sabe que nos conhecemos num show do Bon Jovi.
- Uou, dessa eu não sabia - De longe, Leia retrucou essa.
- Mas, voltando... Sabemos que o mundo não é mais como os anos 80. Mas essa coisa de ser jovem não muda. Esse anseio de liberdade é normal. Você tem pouco tempo pra aproveitar isso. Mas tempo suficiente pra que você veja que nem tudo foi um disperdicio.
Um disperdicio. Toda a nossa vida é um disperdicio. Vocês seres "normais" que se matam de estudar, de trabalhar, e depois morrem. As vezes de canssaço, de velhice, e só então percebem as coisas que deixaram de viver por conta dessa alienação de que tudo precisa ser perfeitamente calculado pra que nada dê errado.
E depois de mais abraços, arrumação de mala, escolha de perucas (levei todas), conversas fraternais, e os pitis sobre atraso da Leila, chegamos no aeroporto.
"Chamada vôo para Berlim"
- Vamo Claire, esse é o nosso vôo.
Deixei minha mala com Leila, e fui até meus pais. Os abracei tão forte quanto poucas vezes eu fiz durante meus 18 anos. Pude sentir que eles estavam mais aliviados por proporcionar isso a sua única filha, no caso eu, que queria tentar ser normal. Por mais que isso fosse impossível.
- Olha, eu prometo que em poucos dias tô voltando pra vocês! - Não chora Claire! Porra!
- Se cuida filha. Curta bastante! Não porque você quer e sim, porque é sua obrigação.
- Eu te amo! Fica com Deus. - Minha mãe depositou um beijo na minha testa, e mais um abraço foi dado.
"Ultima chamada para Berlim"
Foram dois minutos de abraço. E depois enxugamos nossas lágrimas.
Fui andando em direção contrária a eles. Peguei minha mala. Lembro de ter fechado meus olhos e dado um suspiro forte. Aquele seria um longo e novo capitulo na minha vida!

4

Pegamos aquele ônibus que nos leva até o avião. Eu estava com uma mala de mão de primeiros socorros, caso me desse alguma recaida. Mesmo com Leila me apurrinhando dizendo que primeiros socorros poderiam ser resolvidos com outras coisas.
- Eu já disse, primeiros socorros é coisa de gente fraca...
- E coisa de gente com um estado terminal de cancer!
- Olha, não precisamos lembrar disso, ok? Eu posso resolver suas crises com uma balinha muito especial que a gente coloca debaixo da lingua.
Desculpem, mas de drogas eu só conhecia maconha, pó e heroína!
- Como assim?
- Se chama lsd. - Ela olhou para os dois lados se certificando que ninguem do ônibus estaria ouvindo isso.
- Você tá levando isso?
- Porra Claire! Você acha mesmo que eu sou traficante?
- Ah, então é uma droga isso ai.
Ela riu da minha ultima frase, como se eu realmente precisasse saber o que era um fucking lsd. Pra mim, drogas são drogas e provavelmente devem te dar a mesma onda. É tipo religião, cada um tem a sua, mas todos seguem a um só ser.
O onibus parou, e as portas daquela coisa gigantesca chamada avião se abriram, eu e Leila descemos as escadas e depois subimos outras. As que davam pro avião. E de resto já é de se imaginar, sentamos nos lugares, ficamos ouvindo a aeromoça falar aquelas coisas que ninguem tá afim de saber... E fomos de primeira classe, porque eu sou dessas.
- Claire. Claire, acorda. - Ela me cutucava
-  A gente já chegou?
- Hahaha, quem me dera. Temos ainda mais 9 horas de vôo, já que você capotou por umas 3 horas ai. Sabia que nesse avião tem netflix? Acabei de ver a primeira temporada inteira de Orange is the new black, e to indo pra segunda.
- A Alex é solta. Mas a Chapman não.
- Filha da puta! Você acabou de estragar a unica destração dessa merda!
- Se o avião tem netflix, é bem provável que tenha internet. Use-a!
- Eu sei que tem internet - Ela pegou o celular do bolso de seua jaqueta - Eu tava até falando com um amigo meu da Alemanha.
- Nossa, achei que tava 100% fudida de ta viajando contigo, mas até gente você conhece lá...
Leila revirou os olhos.
- Olha aqui - Ela me mostrou o celular - Esse é o Hanz. Ele é Alemão, mas os pais moraram um tempo em Portugal, então ele sabe falar português. Não o nosso português, e sim aquele PORRRRTUGUÊIX DI PORRRRTUGAL.
Ri com a péssima imitação dela. Mas, melhor que a imitação, foi quando ela me mostrou a foto de Hanz. E não era mesmo que os alemães são bonitos? Loiro, olhos verdes, cabelo no ombro, e com certeza uma forma bem sexy de falar.
- Sua baba vai cair garota. - Ela ria
- Ele... Ele é bem interessante.
- E solteiro! Eu tava stalkeando o facebook dele, e graças ao nosso bom Deus, ele tem fotos sem camisa!
Socorro, ele ainda era gostoso! Puta que pariu!
- Mas já apaixonou garota? Calma, a gente ainda tem 18 dias pela frente. Países pra conhecer... Raves e show pra ir...
- Raves e shows?
Leila se virou pra mim apoiando o braço no banco.
- Amiga, o verão europeu é o mais foda do mundo inteiro! Tem umas cidades pequenas em cada país que podem ter os melhores shows da nossa vida. Tipo um Woodstock dos dias atuais. Sabe quem vai fazer um show num festival em Berlim mesmo? Foster the people!
Foster the people pra mim era a banda mais hipster e mais foda do mundo. Os integrantes eram gatos, eram talentosos, as musicas eram legais e os clipes muito loucos. Sim, foi a Leila que me apresentou essa banda, me mostrando o clipe de pumped up kicks que passava na mtv direto. Quando ela ainda era boa, em meados de 2011, por ai.
- Eles vão fazer uma turnê pela europa, e em Berlim vai ter um festival de musica mais alternativa. Eles vão. E, como eu sei que você se animaria bastante, pedi pro Hanz comprar nossos ingressos e depois eu pago. Acredita que foram 15 euros? Eu amo a europa!
E foi assim que as nossas 9 horas foram mais rápido. Ou devagar, do meu ponto de vista, pois só queria chegar logo. Era a minha primeira viagem fora do país. E enquanto eu ia adormecendo novamente no banco do avião, ia sonhando com Hanz e como o sorriso dele nas fotos era bonito. E sonhava também com o show de foster the people e a minha musica favorita como trilha sonora: coming of age.
- Sejam bem vindos a Berlim! Esperamos que tenham feito uma viagem confortável e segura. - Dizia o piloto, mas na verdade só se dava pra ouvir o audio por aquelas caixas de som que ficam no avião.
Eu acordei. De tanto que eu dormi, provavelmente eu estava sem olheira nenhuma, e com meu rimel todo borrado. 12 horas de viagem ao todo que passaram bem rapido. Quando eu não dormia, usava o netflix, ou então stalkeava Hanz e os seus amigos pelo celular da Leila, que eu sabia a senha: 2564
- Chegamos? - Leila se espriguiçava
Fiz que sim com a cabeça. E de repente ela pula do seu assento. Realmente essa guria tava animada.
- ALELUIA! Sinceramente, não aguentava mais ficar sentada. Acho que a minha bunda tá quadrada de tanto tempo aqui. Bora, quanto mais cedo a gente chegar, melhor.
Eram 14:00 de acordo com o relógio de Berlim, e bem diferente do Fuso horário de lá do Brasil. Fazia sol, estava quente. Bem diferente do clima de Sampa, que era aquele frio, misturado com fumaça de carro, o que deixava o ar bem mais seco.
- Olha esse sol que lindo. Olha esse ventinho gostoso! E eu de botas, puta la merda.
- Calma Claire, no hostel tu troca de roupa. Aliás, vamo pegar um taxi o mais rápido possivel, porque o almoço lá é de graça.
Chegamos no check in do aeroporto, pegamos nossas malas, passamos pelos procedimentos, e estavamos nós, saindo do aeroporto, até que somos cutucadas por uma mão meio fria.
- Claire e Leia? - Hmmmm, sotaque português é?
- Hanz!!!!!!!! Oi, tudo bom? - Leila se comprimentou com um abraço. Mas eu achei que os alemães fossem secos pra isso.
- Prazer, sou a Claire - Fui mais educada e dei um aperto de mão.
- Prazer, sou o Hanz, amigo da Leila! Vou levar vocês pro hostel, o almoço é de graça. E hoje é pizza!
Puta merda, que sorriso lindo. Acho que eu fiquei tanto tempo o adimirando, que ele percebeu.
- Belos olhos. - Preciso dizer que isso me deixou vermelha?
- Obrigada, han... Os seus também são lindos.
- Não mais que os seus. Pode apostar.

5

Berlim, como esse lugar é bonito. Totalmente diferente da Berlim dos anos 90 no filme Cristiane F, porque era foda pra caralho!
Chegamos depois de meia hora naquele taxi. Hanz, lindo (e tesudo), nos ajudou a pegar nossas malas.
- Bem, tem essa mala pequena aqui. De quem é? - Perguntou o taxista olhando pra ela, que estava no banco do meio de trás.
- É... É minha. Sabe, primeiros socorros.
- Pirmeira vez que tu fazes uma eurotrip né? - Pergunta Hanz com um sorrisinho de lado.
- Sim. Primeira vez que eu viajo pra fora do Brasil.
Pego a minha bolsa, e vamos andando em direção ao hostel.
Ele tinha uma aparencia meio escrota, se for parar pra pensar. Era só uma portinha de madeira velha, com uma placa em neon escrito "Unterkunft". Tinha nome de puteiro cara. Eu já tava me preparando psicologicamente pra usar roupas apertadas e aquelas meia-calças de furinhos... Bem puta.
- É hospedagem em português. - Comentou Hanz que deve ter percebido a minha cara de duvida tentando decifrar aquela palavra meio sei lá.
Ele abriu a porta pra nós, e de cara tinha um corredor meio escuro. Tipo uma casa mal-assombrada misturada com harry potter, sei lá, nunca fui fã deles. Mas eu presumo que devia ser assim. Bem assombroso.
Fomos andando mais ainda, e ai sim, aquilo parecia um hostel de verdade. Uma mesa de sinuca, outra de totó, - não sei como os alemães chamam isso - e um hoquei de mesa. Tinha uma tv normal, mais avançada, e uma outra daquelas mais antigas com videogame. Tava me sentindo bem em casa ali, e todo mundo era jovem. Precia ser bem legal ficar ali.
- Vou mostrar a vocês vossos quartos - Hanz e seu sotaque portuga
Ele nos levou a um quarto, que tinha duas camas DE CASAL! Tipo, serio, eu tava apaixonada pelo hostel. Pelo Hanz.
Depois dele se despidir e deixar nossas coisas ali, Leila fechou a porta. Enfim, cama, troca de roupa, e privacidade.
- Como ele pode ser tão perfeito? Puta que pariu velho. Ele parece um anjo.
- Nossa Claire, não sabia desse teu lado tarada.
- Há - me sentei na cama - Quando você não tem nada pra fazer, descobre coisas na internet que nunca pensou em descobrir...
- Tipo o que? - Perguntou com aquele sorriso malicioso.
- Tipo... Porno, fanfics hots e tudo mais. Bom assim! Porque eu já sei como agir na hora H.
- Na hora H com o Hanz né sua putona - Ela ria alto sem parar
Joguei meu travesseiro nela
- Para porra! Não fala alto, vai que tem mais gente que entende a nossa lingua aqui?
- O Hanz entende muito de lingua... HEHEHEHE
Que vergonha. Tipo, eu queria transar com ele? Talvez. Mas se tem uma pessoa que não se pode falar sobre isso, é a Leila. Mano, ela te zoa pelo resto da sua vida, e ainda faz aquelas chantagens de criança, dizendo que vai contar pro cara e tudo mais. Mas, como ela é a minha unica amiga do outro lado do mundo... Vou ter que conviver com isso.
- Mas... - Ela deitou na cama - Você tem algum plano pra isso?
- Não! Ele vai ser só mais um amor platônico como todos os outros caras.
- MAS NÃO VAI MESMO! Esqueceu o motivo dessa viagem? Você pode se dar ao luxo de ser uma vadia cara. Pensa nisso.
- Verdade, eu tinha me esquecido.
- Então corre atrás do seu amor, donzela!!!!
Mordi meu lábio só de  pensar em chegar perto de um garoto, quanto mais tentar ser uma vadia pra ele. Como eu nunca pude sair nem sequer ir pra um parque desacompanhada dos meus pais, eu não tive muitas experiências amorosas. E as que eu tive, foram resumidas em apenas olhar pros caras, eler fanfics interativas colocando o nome deles.
- Eu... Eu acho que eu não vo conseguir não.  Nem dar selinho eu já dei mano.
- Claire... Se tem uma coisa que você vai amar fazer na vida, é beijar. E se tem uma coisa que você vai amar ainda mais... Essa coisa é dar. Tudo o que você precisa fazer, é chegar e dizer: eu quero sexo. O alemão pode ser fofo, mas aqueles olhos claros não enganam ninguém de que ele tem cara de bom de cama. Pensa assim: um garoto, um destino. Pronto! Simples!
De repente, batem na nossa porta. O assunto é totalmente quebrado e eu vou atende-la.
- Oi! Me chamo Rosa. Vocês são as meninas novas né?
- Sim. Prazer.. Claire. E aquela ali na cama é a Leila.
- Prazer em te conhecer, Rosa - Gritava Leila que estava indispota demais pra se levantar e falar decentemente com a menina.
- Bem, eu presumo que vocês devem estar cansadas e tudo mais. Mas, mais tarde nós vamos sair. Como vocês devem ter percebido o meu sotaque, eu sou mexicana. E aqui tem um bar com as mejores quesadillas de toda a Alemanha.
- Que foda! Claire... Precisamos ir! Vai ter bebida?
- Claro chica, as bebidas mexicanas são as melhores do mundo.
- Que horas mais ou menos? - Perguntei interessada.
- Umas 8 da noite. Da tempo de se arrumarem, ou quem sabe, dar uma volta em Berlim.
- Hã, dar uma volta? Só a Claire demora 2 horas pra se arrumar. Já são 18:30 da tarde, melhor a gente deixar a volta pra amanhã.
Revirei os olhos. Ninguem precisa saber o tempo que eu demoro pra me arrumar.
- Bueno, então, as 8 horas estamos saindo. Tchau.
Fechei a porta.
- Serio Leila? Nem assim eu tenho descanso?
Ela se levanta e vem em direção a mim.
- O plano é esse: você come uns tacos, mas não muito, pra não dar caganeira. Bebe muuuuita tequila, fica bebada, dá em cima do boy, e da pra ele! Viu? Fácil!
- Não é tão facil assim... Eu tenho muita. Muita vergonha.
- Então, toma isso aqui. - Ela me dá uma bala que retirou do bolso da calça - Lembra que eu disse do LSD? Usa quando você sentir que precisa de um empurãozinho a mais. E outra, quando a gente chegar, os casais vão pros seus quartos, e as pessoas legais like me - ela apontou para si mesma - vão fumar a noite toda.
- Eu não vou usar isso.
- Ah você vai sim. E quando usar uma vez, você vai querer usar mais e mais!